sexta-feira, 8 de março de 2019

DIA INTERNACIONAL DE LUTA DAS MULHERES Indígenas em marcha pelo bem viver

Dia de luta em todo mundo, mulheres unidas contra o machismo e todas as formas de preconceito e opressão. Assim foi comemorada a nossa data, mais um dia de manifestação. Em Santa Inês, no Maranhão, o movimento indígena segue fortificado com a força dos Maíras, na luta das nossas guerreiras cheias de garra, coragem e resistência. Dezenas de mulheres, indígenas e aliadas dos movimentos sociais realizaram um ato em homenagem ao nosso dia: Mulheres Indígenas em marcha pelo Bem Viver: Vivas, livres e em luta. O evento aconteceu na manhã do dia 08 na Praça da Matriz, no centro de Santa Inês, cidade que tem sido palco para diversas manifestações do movimento indígena no Maranhão.

Por Djuena Tikuna
Fotos: Diego Janatã

O ato com a participação de mulheres representando as Terras Indígenas Rio Pindaré, Awa, Caru e Alto Turiaçu, dos parentes Guajajara, Kaapor e Awá-Guajá, marcou a manhã desse dia de protesto contra o Etnocídio e Feminicídio.

A manifestação serviu para manifestar o posicionamento das mulheres, especialmente do movimento indígena com relação à politica indigenista, o desmonte da FUNAI através da MP 870, a municipalização da Saúde Indígena, a extinção da SECADI, afrouxamento da legislação ambiental, que favorece a invasão dos nossos territórios através de grandes obras, mineração, monocultura, indústria madeireira, entre outros. Durante as falas, ficou claro o posicionamento das mulheres contra esse governo que também é golpista,  e sua política genocida, que nega nossos direitos constitucionais na tentativa de implementar suas praticas fascistas de desenvolvimento.


De acordo com Marcilene Guajajara, coordenadora da COAPIMA, esse é um momento de luta das mulheres indígenas, que dão ao mundo seu recado para que esse governo nos respeite. “Não é fácil estarmos aqui falando nossa realidade, não somos nada sem o território e a saúde. Somos contra a municipalização da SESAI, queremos que nossos direitos sejam respeitados. Estamos aqui dando nosso recado. O governo que está ai não tá com pena de nós não, se ficarmos triste estamos dando arma pra eles, viemos aqui para mostrar nossa cara mais uma vez que os indígenas existem e querem ser respeitados. Muitos pensam que o governo paga salario para os povos indígenas, mas não, tudo que temos é com muita dificuldade. Queremos a retornada da demarcação das Terras Indígenas, pois muitos parentes não tem suas terras demarcadas e os que tem, precisam ficar atentos. Enquanto nós vivermos vamos lutar até o fim”, garantiu a parenta Guajajara.


É necessário combatermos o machismo, inclusive dentro de nossas realidades, não podemos aceitar a desculpa da cultura para sermos oprimidas. O depoimento da parenta Kary, do povo Awá Guajá, fez essa reflexão: “ Nós mulheres indígenas merecemos respeito assim como todos, igualmente né ? As vezes nossos próprios parentes não respeitam nós mulheres,  não respeitam nossas opiniões, mas estamos aqui na luta também”.

A programação do dia 08 de março, em Santa Inês, continua na parte da noite. Na aldeia Januária, na T.I Rio Pindaré, as mulheres Guajajara realizam um grande encontro com muita cantoria, moqueado e mais discursos, evidenciando o protagonismo e a resistência, mostrando que o nosso lugar é na luta.


O ato das mulheres indígenas em Marcha pelo Bem Viver: Vivas, livres e em  luta, foi organizado pelo movimento indígena local, tendo as seguintes organizações indígenas como referência: COAPIMA – Coordenação das Organizações e Articulações  dos Povos Indígenas do Maranhão, AMIMA – Associação das Mulheres Indígenas do Maranhão, Conselhos das Mulheres (Aldeias Januária e Tabocal), Guerreiras da Floresta, Articulação dos Povos Indígenas do Norte do Maranhão, Associações Arari e Kaky, Wirazu, Mainumy, Ta Hury, com o apoio da COIAB e da APIB e de parceiros como Instituto Tibá, Instituto Sociedade População e Natureza, além das organizações locais dos movimentos sociais.




Abaixo manifesto assinado pelas organizações indígenas.


08 DE MARÇO DE 2019
DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES
Mulheres Indígenas em Marcha Pelo Bem Viver: Vivas, Livres e em Luta.

Nesse 08M - Dia Internacional de luta e resistência das Mulheres, nós mulheres indígenas do norte do Maranhão, dos povos Guajajara, Ka´apor e Awá, das terras indígenas Alto Turiaçu, Awa, Caru e Rio Pindaré, energizadas pelos Maír das matas nos juntaremos às parentas e à diversidade das mulheres do Brasil e do mundo para denunciar o pacote de medidas genocidas, racistas e patriarcal do governo de Jair Messias Bolsonaro, que se elegeu o presidente a partir de um de golpe de Estado orquestrado pelos poderes legislativo, executivo, judiciário e da grande mídia capitalista, inimigos históricos dos povos indígenas.

Vimos às ruas de Santa Inês-MA para denunciar o projeto de extermínio das classes menos favorecidas do Brasil, o ETNOCÍDIO e FEMINICÍDIO, contra os povos indígenas, população negra e as mulheres!

Vimos às ruas denunciar os retrocessos aos nossos direitos sociais e originários como o desmonte da política indigenista claramente evidenciado na publicação da MP 870 de 1º de janeiro de 2019, classificamos essa medida como ato político do governo que esquarteja a FUNAI entregando nas mãos dos ruralistas e do agronegócio a proteção e a demarcação das terras indígenas e quilombolas.

Vimos às ruas denunciar a expropriação de nossos territórios, a poluição e privatização da água, a ganância das grandes empresas que transformam os bens comuns da natureza em mercadoria causando desequilíbrios socioambientais, mudanças climáticas e crimes contra a humanidade como os recentes casos de rompimento das barragens de minério em Mariana e Brumadinho/MG matando milhões de vida humanas, dos animais, das plantas e do rio!

Vimos às ruas denunciar a proposta do governo Jair Bolsonaro, de flexibilização da legislação ambiental que facilita ainda mais os crimes ambientais, a liberação dos agrotóxicos e o aumento das invasões das terras indígenas. Iniciamos o ano com a invasão e ameaça de 04 terras indígenas: TI Awá, no Maranhão de uso fruto de nossos parentes de recente contato Awá Guajá, TI dos parentes Arara, no Pará, TI dos parentes Uru-Eu-Wau-Wau e TI Karipuna, ambas em Rondônia!

Vimos às ruas denunciar que as atuais e constantes invasões em terras indígenas vêm sendo legitimadas pelo governo do presidente Jair Messias Bolsonaro, que propaga em suas falas públicas o ódio aos indígenas e aos diferentes declarando publicamente ser contra os direitos constitucionais dos povos indígenas (“nenhum centímetro de terra para índio!”, “índio vive em zoológico”), que desrespeita a Constituição Federal/88, onde consta:  artigo 231 -  declara os "direitos originários" dos índios sobre as terras tradicionalmente ocupadas e afirma que compete à União demarcar essas terras!

Vimos às ruas denunciar a proposta de municipalização da saúde indígena do governo Jair Messias Bolsonaro. Nós já sabemos o que é atendido pelo SUS vias prefeituras. Na época da FUNASA morríamos nos corredores dos hospitais municipais, nós não estamos pedindo favor, nós temos o direito à saúde diferenciada.  A PNASPI – Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, que integra a Política Nacional de Saúde, reconhece nossas especificidades étnicas e culturais e nossos direitos territoriais, o que queremos e merecemos é o aperfeiçoamento do atendimento através dos 34 Distritos Especiais Sanitários Indígenas distribuídos em território nacional, evitando inclusive aumentar os casos de morbimortalidade infantil e materna com nós, nossas parentas e nosso/as filho/as, promovendo assim a saúde para nosso bem viver!

Vimos às ruas denunciar a proposta do governo federal de acabar com a educação para a diversidade, direitos humanos e educação étnico-racial. A SECADI/Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão fora extinta um dia após a tomada de posse do presidente Jair Bolsonaro, em 02/01/2019. Seu objetivo estabelecido na lei tem as seguintes modalidades: Educação Especial; Educação de Jovens e Adultos; Educação do Campo; Educação Escolar Quilombola; Educação para as Relações Étnico-raciais e Educação em direitos humanos. A Educação Escolar Indígena é fruto de uma árdua luta dos povos indígenas do Brasil. É um direito constitucional a educação escolar específica, diferenciada, intercultural, bilíngue/multilíngue e comunitária, que é viabilizado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), portanto, cabe ao governo federal em parceria com os Estados e Municípios a garantia deste direito dos povos indígenas!

Vimos às ruas denunciar ainda as medidas de retrocessos desse governo fundamentalista e ultraliberal que impactam negativamente o nosso modo de vida, de modo específico à vida das mulheres indígenas aumentando a violência e de forma geral a todas as mulheres, negras, camponesas, extrativistas, das cidades. Essas medidas como a flexibilização da legislação ambiental e o decreto de flexibilização de posse do porte de armas é a possibilidade real de aumento dos crimes contra as lideranças indígenas, ativistas sociais, ambientalistas e do feminicídio, A reforma da previdência, que restringe o acesso, sobretudo das mulheres, à proteção social; o desmonte das Políticas para as Mulheres e de Igualdade Racial reduzida ao ministério da família tradicional!

Nós, mulheres indígenas merecemos ser tratadas com respeito e dignidade! Somos a resistência! Somos aquelas que os homens colonizadores estupraram, mas não conseguiram nos exterminar! Sabemos o que é importante para nós! A sociedade e o Estado precisam aprender a nos ouvir. Somos os povos originários dessa terra, lutamos pelo direito de viver bem em nossos territórios!

Conclamamos a sociedade brasileira que respeito nossa existência, nosso direito de lutar e de ser livre! Seguiremos em marcha carregando em nossos corpos os nossos territórios e a ancestralidade de nossas antepassadas, que desde a colonização resiste ao opressor estuprador de nossos corpos e expropriador de nossas terras!

Pela vida das mulheres, a demarcação das terras indígenas!

Organizações indígenas
AMIMA
Conselhos das Mulheres aldeias Januaria e Tabocal, TI Rio Pindaré
Guerreiras da Floresta, TI Caru
APINOMA
Associações Comunitária ARARI, Wirazu...
COAPIMA
COAIB
APIB

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