Dia de luta em todo mundo, mulheres unidas contra o machismo e todas as
formas de preconceito e opressão. Assim foi comemorada a nossa data, mais um
dia de manifestação. Em Santa Inês, no Maranhão, o movimento indígena segue
fortificado com a força dos Maíras, na luta das nossas guerreiras cheias de
garra, coragem e resistência. Dezenas de mulheres, indígenas e aliadas dos
movimentos sociais realizaram um ato em homenagem ao nosso dia: Mulheres
Indígenas em marcha pelo Bem Viver: Vivas, livres e em luta. O evento aconteceu
na manhã do dia 08 na Praça da Matriz, no centro de Santa Inês, cidade que tem
sido palco para diversas manifestações do movimento indígena no Maranhão.
O ato com a participação de mulheres
representando as Terras Indígenas Rio Pindaré, Awa, Caru e Alto Turiaçu, dos
parentes Guajajara, Kaapor e Awá-Guajá, marcou a manhã desse dia de protesto
contra o Etnocídio e Feminicídio.
A manifestação serviu para
manifestar o posicionamento das mulheres, especialmente do movimento indígena
com relação à politica indigenista, o desmonte da FUNAI através da MP 870, a
municipalização da Saúde Indígena, a extinção da SECADI, afrouxamento da
legislação ambiental, que favorece a invasão dos nossos territórios através de
grandes obras, mineração, monocultura, indústria madeireira, entre outros. Durante
as falas, ficou claro o posicionamento das mulheres contra esse governo que
também é golpista, e sua política genocida,
que nega nossos direitos constitucionais na tentativa de implementar suas
praticas fascistas de desenvolvimento.
De acordo com Marcilene
Guajajara, coordenadora da COAPIMA, esse é um momento de luta das mulheres
indígenas, que dão ao mundo seu recado para que esse governo nos respeite. “Não
é fácil estarmos aqui falando nossa realidade, não somos nada sem o território
e a saúde. Somos contra a municipalização da SESAI, queremos que nossos
direitos sejam respeitados. Estamos aqui dando nosso recado. O governo que está
ai não tá com pena de nós não, se ficarmos triste estamos dando arma pra eles,
viemos aqui para mostrar nossa cara mais uma vez que os indígenas existem e
querem ser respeitados. Muitos pensam que o governo paga salario para os povos
indígenas, mas não, tudo que temos é com muita dificuldade. Queremos a
retornada da demarcação das Terras Indígenas, pois muitos parentes não tem suas
terras demarcadas e os que tem, precisam ficar atentos. Enquanto nós vivermos
vamos lutar até o fim”, garantiu a parenta Guajajara.
É necessário combatermos o
machismo, inclusive dentro de nossas realidades, não podemos aceitar a desculpa
da cultura para sermos oprimidas. O depoimento da parenta Kary, do povo Awá
Guajá, fez essa reflexão: “ Nós mulheres indígenas merecemos respeito assim como
todos, igualmente né ? As vezes nossos próprios parentes não respeitam nós
mulheres, não respeitam nossas opiniões,
mas estamos aqui na luta também”.
A programação do dia 08 de março,
em Santa Inês, continua na parte da noite. Na aldeia Januária, na T.I Rio Pindaré,
as mulheres Guajajara realizam um grande encontro com muita cantoria, moqueado
e mais discursos, evidenciando o protagonismo e a resistência, mostrando que o
nosso lugar é na luta.
O ato das mulheres indígenas em
Marcha pelo Bem Viver: Vivas, livres e em luta, foi organizado pelo movimento indígena
local, tendo as seguintes organizações indígenas como referência: COAPIMA –
Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão, AMIMA –
Associação das Mulheres Indígenas do Maranhão, Conselhos das Mulheres (Aldeias Januária
e Tabocal), Guerreiras da Floresta, Articulação dos Povos Indígenas do Norte do
Maranhão, Associações Arari e Kaky, Wirazu, Mainumy, Ta Hury, com o apoio da
COIAB e da APIB e de parceiros como Instituto Tibá, Instituto Sociedade População
e Natureza, além das organizações locais dos movimentos sociais.
Abaixo manifesto assinado pelas organizações indígenas.
08 DE MARÇO DE 2019
DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES
Mulheres Indígenas em Marcha Pelo Bem Viver: Vivas, Livres e em Luta.
DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES
Mulheres Indígenas em Marcha Pelo Bem Viver: Vivas, Livres e em Luta.
Nesse 08M - Dia Internacional de
luta e resistência das Mulheres, nós mulheres indígenas do norte do Maranhão,
dos povos Guajajara, Ka´apor e Awá, das terras indígenas Alto Turiaçu, Awa,
Caru e Rio Pindaré, energizadas pelos Maír das matas nos juntaremos às parentas e à diversidade das
mulheres do Brasil e do mundo para denunciar o pacote de medidas genocidas,
racistas e patriarcal do governo de Jair Messias Bolsonaro, que se elegeu o presidente a partir de um de golpe de
Estado orquestrado pelos poderes legislativo, executivo, judiciário e da grande
mídia capitalista, inimigos históricos dos povos indígenas.
Vimos às ruas de Santa Inês-MA para
denunciar o projeto de extermínio das classes menos favorecidas do Brasil, o ETNOCÍDIO e FEMINICÍDIO, contra os
povos indígenas, população negra e as mulheres!
Vimos às ruas denunciar os retrocessos aos nossos direitos sociais e
originários como o desmonte da política indigenista claramente evidenciado na
publicação da MP 870 de 1º de janeiro de
2019, classificamos essa medida como ato político do governo que esquarteja
a FUNAI entregando nas mãos dos ruralistas e do agronegócio a proteção e a
demarcação das terras indígenas e quilombolas.
Vimos
às ruas denunciar
a expropriação de nossos territórios, a poluição e privatização da água, a
ganância das grandes empresas que transformam os bens comuns da natureza em
mercadoria causando desequilíbrios socioambientais, mudanças climáticas e crimes
contra a humanidade como os recentes casos de rompimento das barragens de
minério em Mariana e Brumadinho/MG matando milhões de vida humanas, dos
animais, das plantas e do rio!
Vimos
às ruas denunciar
a proposta do governo Jair Bolsonaro, de flexibilização da legislação ambiental
que facilita ainda mais os crimes
ambientais, a liberação dos agrotóxicos e o aumento das invasões das terras
indígenas. Iniciamos o ano com a invasão e ameaça de 04 terras indígenas: TI
Awá, no Maranhão de uso fruto de nossos parentes de recente contato Awá Guajá,
TI dos parentes Arara, no Pará, TI
dos parentes Uru-Eu-Wau-Wau e TI Karipuna, ambas em Rondônia!
Vimos
às ruas denunciar
que as atuais e constantes invasões em terras indígenas vêm sendo legitimadas pelo
governo do presidente Jair Messias Bolsonaro, que propaga em suas falas
públicas o ódio aos indígenas e aos diferentes declarando publicamente ser
contra os direitos constitucionais dos povos indígenas (“nenhum centímetro de terra para índio!”, “índio vive em zoológico”), que desrespeita a Constituição Federal/88,
onde consta: artigo
231 - declara os "direitos
originários" dos índios sobre as terras tradicionalmente ocupadas e afirma
que compete à União demarcar essas terras!
Vimos às ruas denunciar a proposta de
municipalização da saúde indígena do governo Jair Messias Bolsonaro. Nós já
sabemos o que é atendido pelo SUS vias prefeituras. Na época da FUNASA morríamos nos
corredores dos hospitais municipais, nós não estamos pedindo favor, nós temos o
direito à saúde diferenciada. A PNASPI – Política Nacional de
Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, que integra a Política Nacional de Saúde,
reconhece nossas especificidades étnicas e culturais e nossos direitos
territoriais, o que queremos e merecemos é o aperfeiçoamento do atendimento
através dos 34 Distritos Especiais Sanitários Indígenas distribuídos em
território nacional, evitando inclusive aumentar os casos de morbimortalidade
infantil e materna com nós, nossas parentas e nosso/as filho/as, promovendo
assim a saúde para nosso bem viver!
Vimos às ruas denunciar a proposta do
governo federal de acabar com a educação para a diversidade, direitos humanos e
educação étnico-racial. A SECADI/Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização, Diversidade e Inclusão fora extinta um dia após a tomada de
posse do presidente Jair Bolsonaro, em 02/01/2019. Seu objetivo estabelecido na
lei tem as seguintes modalidades:
Educação Especial; Educação de Jovens e Adultos; Educação
do Campo; Educação Escolar Quilombola; Educação para as Relações Étnico-raciais
e Educação em direitos humanos.
A
Educação Escolar Indígena é fruto de uma árdua luta dos povos indígenas do
Brasil. É um direito constitucional a educação escolar específica,
diferenciada, intercultural, bilíngue/multilíngue e comunitária, que é
viabilizado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB),
portanto, cabe ao governo federal em parceria com os Estados e Municípios a
garantia deste direito dos povos indígenas!
Vimos
às ruas denunciar
ainda as medidas de retrocessos desse governo fundamentalista e ultraliberal que
impactam negativamente o nosso modo de vida, de modo específico à vida das
mulheres indígenas aumentando a violência e de forma geral a todas as mulheres,
negras, camponesas, extrativistas, das cidades. Essas medidas como a flexibilização da legislação ambiental e o decreto de flexibilização de
posse do porte de armas é a possibilidade real de aumento dos crimes contra
as lideranças indígenas, ativistas sociais, ambientalistas e do feminicídio, A reforma
da previdência, que restringe o acesso, sobretudo das mulheres, à proteção
social; o desmonte das Políticas para as Mulheres e de Igualdade Racial
reduzida ao ministério da família tradicional!
Nós, mulheres indígenas merecemos ser tratadas com
respeito e dignidade! Somos a resistência! Somos aquelas que os homens
colonizadores estupraram, mas não conseguiram nos exterminar! Sabemos o que é
importante para nós! A sociedade e o Estado precisam aprender a nos ouvir. Somos
os povos originários dessa terra, lutamos pelo direito de viver bem em nossos
territórios!
Conclamamos a sociedade
brasileira que respeito nossa existência, nosso direito de lutar e de ser
livre! Seguiremos em marcha carregando em nossos corpos os nossos territórios e
a ancestralidade de nossas antepassadas, que desde a colonização resiste ao
opressor estuprador de nossos corpos e expropriador de nossas terras!
Pela vida
das mulheres, a demarcação das terras indígenas!
Organizações
indígenas
AMIMA
Conselhos
das Mulheres aldeias Januaria e Tabocal, TI Rio Pindaré
Guerreiras
da Floresta, TI Caru
APINOMA
Associações
Comunitária ARARI, Wirazu...
COAPIMA
COAIB
APIB